"Diário do Primeiro Sarau": sarau que inspira

Na época do ensino médio, uma vez por ano, havia saraus, promovidos pelos professores e alunos do colégio. O ano que mais me marcou, sem dúvidas, foi o último ano, em que as meninas da minha sala se reuniram para reproduzirem o Slam Resistência, que nada mais é do que batalhas de rap que ocorrem, principalmente, na periferia de São Paulo, em que jovens, moradores dessas periferias, se reúnem e expõem suas poesias, falando sobre temas como desigualdade social, empoderamento feminino, racismo, violência, entre outros. Levamos essa batalha para dentro da escola, recitando as poesias desses jovens para professores, pais e alunos.




"Eu preciso falar, século XXI, onde tudo é comum Policial que confundiu nego com um traficante, matou, foda-se Era só mais um, esse é o Brasil, e esse é aqui é meu povo Eu aposto 100 mil contigo, que amanhã ele confundi de novo Amanhã, depois e novamente De dez traficante que morre, nove é inocente Mas como ser traficante e inocente ao mesmo tempo na vida? É só dizer que é traficante e pronto, e todo mundo acredita Até eu acredito no que foi dito pelo supremo veredito E ai de mim se não acreditar, talvez nem passe mais um dia vivo Mas eu sou traficante também, hem, representante de Coelho Neto A minha indola é a leitura e o fuzil e o papo reto Século XXI, onde tudo é comum, onde o rico só esculta aplauso E eu esculto "Patum" Onde o rico dorme feliz, ao mar e suas onda sucintas Enquanto o meu despertador é uma glock com pente de 30 Mirada no alto tem sangue no asfalto e uma bela senhora de salto Novamente a PM confundiu um simples abraço com grande assalto Eu tenho perguntas dentro de mim que me seguem como sombra Eu vou abri-la com você, se puder vocês me responda Por que o rico pode e agente não pode? Por que nos usamos Xperia enquanto eles usam Ipod Ou por que ele usa cinquenta ternos diferente e eu to sempre com o mesmo short? Por que o rico é informante e o pobre é X9? Porque o rico é portador de arma, e o podre marginal com revolver Porque o rico recebe carinho e o pobre recebe sacode ? Ao rico que me ver do outro lado dessa telinha A minha casa inteira na dele não dá a cozinha Mas eu ele vai dizer que eu sou maluco, e que eu sei do que to falando Mas o que ele vê na TV é meu verdadeiro cotidiano [Ponte] Pessoas sendo mortas, metrô e trem lotado Busu quase sem porta, cadê o ar-condicionado? Isso é século XXI rapa E que a maldade evolua Se não daqui a pouco vão dizer nos jornais, pessoas negras são proibidas nas ruas Cabelo duro é pecado, beiço de mula de é pecado Branco é bonito ser gay, mas preto é feio ser viado A escravidão acabou? Quem te enganou na resposta? Se acabou por que eu sinto a dor do chicote nas costas? Doi, o suor bate e arde Vocês podem me chamar de tudo, só não pode me chamar de covarde Meu cabelo é duro, e meu beiço é grande Mas eu me amarro E cada rima constante vale bem mais que seu carro Porque seu carro no fume, só serve pra quem tá vivo Mas o caráter e o saber, se eu morrer eu levo comigo E é por isso que eu prefiro, alface, azeite e vinagre E depois de tanta verdade que eu falei Se eu viver vai ser milagre."


Foi uma experiência única, pois pudemos levar algo para o sarau que representasse nossa identidade e que falasse sobre assuntos que queríamos debater e que são tão importantes para a juventude e para toda a sociedade. A troca de cultura em um sarau é, sem dúvidas, fundamental.

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