"Diário da Aula & Lab 8": Resenha do texto "A relação entre o corpo e o poder em Michel Foucault"
O pensamento de autores contemporâneos estão presentes em diversas outras obras que tentam falar um pouco sobre nossa sociedade de maneira precisa.
As referências a Michel Foucault com sua ideia de poder e sociedade disciplinar são inúmera, e decidi resenhar sobre um artigo que fala um pouco sobre essa relação do poder e do corpo baseado na ideia do pensador francês. O artigo se chama "A relação entre o corpo e o poder em Michel Foucault", de Sérgio Murilo Rodrigues, que podemos encontrar aqui
O filósofo e mestre Sérgio Murilo Rodrigues em seu artigo “A relação entre o corpo e o poder em Michel Foucault” possui como tema central as relações de poder sobre as interpretações e pontos de vista produzidas pelo corpo, dando destaque a abordagem de Foucault a essa questão.
O autor introduz seu texto apontando preocupações cotidianas que existem em relação ao corpo em si, chamando atenção a ideia de que quanto maior é a preocupação, colocada como uma atenção ou cuidado ao corpo, maior é o controle sobre esse, pois o que acontece, na verdade é que o corpo é colocado de modo inferior a alma a partir da cultura histórica ocidental, fazendo parte da ideal de dualismo e oposições sobre conceitos, conforme apontado:
"De maneira geral, sempre houve uma tendência entre os filósofos em
explicar o homem não como uma unidade integral, mas como um
composto de duas partes diferentes: um ‘corpo’ (material) e uma ‘alma’
(espiritual e consciente). ”
Apesar desse olhar dicotômico, autores como Nietzsche e Foucault possuem outra forma de interpretação que auxiliaria a melhor interpretação da relação entre corpo e poder, dessa forma, o artigo enfoca em responder questões como a possibilidade de interpretação do corpo e o “dono” do corpo como intérprete primordial.
Sérgio inicia as reflexões sobre essas questões apontando a ideia de senso comum em acreditar que a interpretação pelo corpo é primordial, ou seja, acatando sensações como verdades:
Entretanto, muitos autores constatam que as coisas como são ultrapassam o que os humanos são capazes de perceber, como Nietzsche que, radicalmente, coloca que não há fatos, mas sim interpretações, concluindo que nosso olhar está carregado pelo conhecimento de mundo que possuímos, tornando esse ponto de vista um lugar de poder, com isso, é exemplificado com a interpretação de Foucault ao quadro “As Meninas” de Velázquez, concluindo que o olhar não pode ser imparcial: ele já é uma interpretação, além da crítica a dicotomia, em que o observador pode ser tanto sujeito quanto objeto, sem oposições.
A partir disso, podemos compreender melhor a relação de poder com o corpo, em que uma estrutura do olhar lança uma interpretação sobre o outro, criando relações de poder na formação de discurso e significado sobre o corpo, além da constituição de disciplinas que exercem o controle.
O corpo está sempre sob o poder de uma interpretação que varia de acordo com o momento histórico. Na modernidade, o poder sobre o corpo é fundado em saberes racionais e científicos.
Na terceira parte do texto, “O corpo e o poder”, Sérgio discorre sobre a abordagem do poder para Foucault, em que é consolidado em A ordem do discurso (1971) ao colocar o discurso como um desejo e uma vontade de poder.
Além disso, também é mencionado a ideia de micropoder a fim de produzir comportamentos que levam a construção de corpos previsíveis e adestrados, mencionando a partir disso o modelo de encarceramento nos dias modernos, além de usa como exemplo, também, o manicômio e até mesmo institutos educacionais.
Concluindo o texto, Sérgio sintetiza o significado de poder para Foucault como “uma prática social em constante transformação e constituído historicamente”, contrariando a ideia de ter um significado único e universal, também salientando teses que constituem o significado de poder.
A primeira tese é relacionada a não relação do poder com o Estado, pois em uma sociedade há diversas relações de poder diferentes, logo, o poder não está concentrado no Estado; a segunda tese fala sobre a não concepção do poder de maneira marxista ou liberal, pois não é possível “possuir” o poder, o poder simplesmente existe e é exercido, visto que nada está isento de poder e não há “perda” ou “ganho” de poder; a terceira tese é sobre a dissociação do poder como repressão, ou seja, o poder não há apenas um lado negativo, de suprimir e restringir, mas também um lado em que incentiva, permite e produz.
A partir disso, podemos entender melhor como o poder é exercido em sua relação com o corpo, em que há uma estratégia de docilizar o corpo para ser produtivo e participar do meio social em que nos inserimos. O autor exemplifica:
Com isso, estamos em uma situação que há um poder que nos controla pelo corpo sem que haja justificativas profundas e verdadeiras o suficiente, de forma a se encaixar em um certo padrão.
Rodrigues finaliza indagando a ideia de corpo livre, em que Foucault, apesar de discutir o poder sobre o corpo, não conclui uma forma de tê-lo livre, apesar de pensar que, quanto mais controle é exercido sobre o corpo, maior a consciência que se tem sobre esse.
As referências a Michel Foucault com sua ideia de poder e sociedade disciplinar são inúmera, e decidi resenhar sobre um artigo que fala um pouco sobre essa relação do poder e do corpo baseado na ideia do pensador francês. O artigo se chama "A relação entre o corpo e o poder em Michel Foucault", de Sérgio Murilo Rodrigues, que podemos encontrar aqui
O filósofo e mestre Sérgio Murilo Rodrigues em seu artigo “A relação entre o corpo e o poder em Michel Foucault” possui como tema central as relações de poder sobre as interpretações e pontos de vista produzidas pelo corpo, dando destaque a abordagem de Foucault a essa questão.
O autor introduz seu texto apontando preocupações cotidianas que existem em relação ao corpo em si, chamando atenção a ideia de que quanto maior é a preocupação, colocada como uma atenção ou cuidado ao corpo, maior é o controle sobre esse, pois o que acontece, na verdade é que o corpo é colocado de modo inferior a alma a partir da cultura histórica ocidental, fazendo parte da ideal de dualismo e oposições sobre conceitos, conforme apontado:
"De maneira geral, sempre houve uma tendência entre os filósofos em
explicar o homem não como uma unidade integral, mas como um
composto de duas partes diferentes: um ‘corpo’ (material) e uma ‘alma’
(espiritual e consciente). ”
Apesar desse olhar dicotômico, autores como Nietzsche e Foucault possuem outra forma de interpretação que auxiliaria a melhor interpretação da relação entre corpo e poder, dessa forma, o artigo enfoca em responder questões como a possibilidade de interpretação do corpo e o “dono” do corpo como intérprete primordial.
Sérgio inicia as reflexões sobre essas questões apontando a ideia de senso comum em acreditar que a interpretação pelo corpo é primordial, ou seja, acatando sensações como verdades:
“O corpo humano tem um contato, aparentemente, imediato com o mundo
através dos sentidos [...] parece óbvio que, se eu tocar em algo, sentirei
esse algo imediatamente. “
Entretanto, muitos autores constatam que as coisas como são ultrapassam o que os humanos são capazes de perceber, como Nietzsche que, radicalmente, coloca que não há fatos, mas sim interpretações, concluindo que nosso olhar está carregado pelo conhecimento de mundo que possuímos, tornando esse ponto de vista um lugar de poder, com isso, é exemplificado com a interpretação de Foucault ao quadro “As Meninas” de Velázquez, concluindo que o olhar não pode ser imparcial: ele já é uma interpretação, além da crítica a dicotomia, em que o observador pode ser tanto sujeito quanto objeto, sem oposições.
A partir disso, podemos compreender melhor a relação de poder com o corpo, em que uma estrutura do olhar lança uma interpretação sobre o outro, criando relações de poder na formação de discurso e significado sobre o corpo, além da constituição de disciplinas que exercem o controle.
O corpo está sempre sob o poder de uma interpretação que varia de acordo com o momento histórico. Na modernidade, o poder sobre o corpo é fundado em saberes racionais e científicos.
Na terceira parte do texto, “O corpo e o poder”, Sérgio discorre sobre a abordagem do poder para Foucault, em que é consolidado em A ordem do discurso (1971) ao colocar o discurso como um desejo e uma vontade de poder.
Além disso, também é mencionado a ideia de micropoder a fim de produzir comportamentos que levam a construção de corpos previsíveis e adestrados, mencionando a partir disso o modelo de encarceramento nos dias modernos, além de usa como exemplo, também, o manicômio e até mesmo institutos educacionais.
Concluindo o texto, Sérgio sintetiza o significado de poder para Foucault como “uma prática social em constante transformação e constituído historicamente”, contrariando a ideia de ter um significado único e universal, também salientando teses que constituem o significado de poder.
A primeira tese é relacionada a não relação do poder com o Estado, pois em uma sociedade há diversas relações de poder diferentes, logo, o poder não está concentrado no Estado; a segunda tese fala sobre a não concepção do poder de maneira marxista ou liberal, pois não é possível “possuir” o poder, o poder simplesmente existe e é exercido, visto que nada está isento de poder e não há “perda” ou “ganho” de poder; a terceira tese é sobre a dissociação do poder como repressão, ou seja, o poder não há apenas um lado negativo, de suprimir e restringir, mas também um lado em que incentiva, permite e produz.
A partir disso, podemos entender melhor como o poder é exercido em sua relação com o corpo, em que há uma estratégia de docilizar o corpo para ser produtivo e participar do meio social em que nos inserimos. O autor exemplifica:
“Ser bonito e saudável é bom para mim, mas é melhor ainda para a indústria farmacêutica, de cosméticos, de musculação e etc. Como dependemos do outro para obtermos o nosso próprio autoconhecimento, ficamos vulneráveis para aceitar os discursos verdadeiros das ciências como discursos que revelam a autenticidade do nosso corpo. E nem sempre é assim. ”
Com isso, estamos em uma situação que há um poder que nos controla pelo corpo sem que haja justificativas profundas e verdadeiras o suficiente, de forma a se encaixar em um certo padrão.
Rodrigues finaliza indagando a ideia de corpo livre, em que Foucault, apesar de discutir o poder sobre o corpo, não conclui uma forma de tê-lo livre, apesar de pensar que, quanto mais controle é exercido sobre o corpo, maior a consciência que se tem sobre esse.
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